Entre fevereiro de 2014 e janeiro deste ano, o preço do metro quadrado (m²) de imóveis prontos, a maioria usados, em 20 cidades brasileiras teve um aumento médio de 6,29%, segundo o Índice FipeZap. No mesmo período, a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumulou alta de 7,1%, considerando que em janeiro o IPCA, que ainda não é conhecido, tenha subido 1,2%, segundo projeções do Boletim Focus do Banco Central.

Onze de 20 cidades pesquisadas registraram em 12 meses variações de preços abaixo da inflação do período. Brasília (0,37%), Curitiba (1,91%), Porto Alegre (2,44%) e Santos (2,54%) foram os municípios com menor variação nominal de preços. Até mesmo em importantes praças, como São Paulo e Rio de Janeiro, o preço do m² perdeu para a inflação no período, com altas acumuladas em 12 meses de 7,02% e 6,63%, respectivamente.

A valorização do metro quadrado é mais desfavorável quando se avalia o desempenho do mês. Em janeiro, apenas uma das 20 cidades acompanhadas registrou um avanço do preço do metro quadrado superior à variação da inflação projetada em 1,2%. Essa cidade foi Fortaleza, onde a cotação subiu 1,43%. Na média das 20 cidades pesquisadas, a variação foi 0,39%. Em quatro municípios - Porto Alegre, Curitiba, Santos e Niterói - houve queda nominal de preço.

Sem surpresa

"A queda real do preço médio do m² não foi uma surpresa", afirma o coordenado do índice, Eduardo Zylberstajn. Ele explica que o mercado imobiliário vem perdendo o fôlego faz tempo. Em 2013,o preço médio para 20 cidades tinha subido 13,74% e no ano passado, 6,7%. Mas em ambos os casos a variação tinha superado a inflação. Agora, no entanto, houve uma reversão e a evolução do preço médio dos imóveis não está conseguindo vencer nem se equiparar à alta do IPCA.

Dois dos três fatores que movem o mercado imobiliários são os responsáveis pela queda real do preço médio dos imóveis. Segundo o economista, um desses fatores é o enfraquecimento do mercado de trabalho, com menor geração de renda e de emprego. O outro é a condição de crédito. "Os juros cobrados do crédito imobiliário subiram na Caixa e em outros bancos", lembra Zylberstajn.

A desconfiança do trabalhador em relação à sua situação profissional combinada com encarecimento do crédito funcionam como uma espécie de freio na demanda para a compra de imóveis. E isso acaba tendo impacto nos preços. O único fator que continua favorável à expansão desse mercado é demografia, lembra o economista. A cada ano, cerca de um milhão de novas famílias são formadas, o que se traduz em demanda crescente pela compra de moradia, que ficou mais difícil de se concretizar por causa das condições desfavoráveis da economia.

"Não dá para ficar otimista em relação ao futuro", afirma o economista, ressaltando que a tendência é que a variação dos preços dos imóveis continue perdendo para a inflação. Segundo ele, o enfraquecimento da economia deve tirar o fôlego do mercado imobiliário tanto em termos de preços como em número de transações fechadas. "Os estoques de imóveis das incorporadoras estão elevados", observa. Com isso, o poder de barganha nas negociações hoje é mais favorável ao comprador. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.